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O MODELO DO BATISMO - CAP. V PDF Imprimir E-mail
Escrito por Marcelo Oliveira Lima   

Como houve um modelo divino para o tabernáculo, assim há um modelo na Bíblia para o batismo. Neste modelo há quatro elementos:

Um Sujeito Apropriado.
Um Modo Apropriado.
Um Desígnio Apropriado.
Um Administrante Apropriado.

melhor fora apresentado:

Um Sujeito Escriturístico.
Um Modo Escriturístico.
Um Desígnio Escriturístico.
Um Administrante Escriturístico.

Como exemplo de um batismo em que achamos estes quatro elementos, vejamos o batismo de Jesus. É um dos belíssimos incidentes em toda a Bíblia: "Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: "Eu careço de ser batizado por Ti e vens Tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o deixou. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele; e eis que uma voz do céu, dizia: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo".

De Nazaré ao Jordão, onde João estava batizando, vão umas sessenta milhas (100 quilômetros). Nazaré fica nas fraldas das montanhas. Há muitos belos regatos e poços cristalinos por Nazaré onde alguém podia ser batizado, mas, quando Jesus no devido tempo veio para ser batizado, virou-se desses belos riachos e poços, andou 100 quilômetros para que o Seu batismo cumprisse toda a justiça.

O Jordão não é tão belo como alguns rios: é rápido, muitas vezes turvo e nalguns pontos fundo e traidor. Queixou-se Naamã de se mergulhar nele sete vezes por ordem do profeta Eliseu. Todavia, nas margens deste velho rio teve lugar uma cena igual à qual outra não houvera antes nem jamais haverá outra vez em todo o mundo. Aqui, nas águas até a cintura, esteve O Batista no seu manto de pelo de camelo; ao seu lado o Filho de Deus; pela margem a multidão que acudira para ouvir João pregar. No alto, nos céus, olhando para baixo, Deus o Pai, falando numa voz audível a todos e, descendo do céu, o Espírito de Deus, qual pomba, pousando sobre o Filho, há pouco batizado no rio. É derramado sobre todos, um azul, azul espaço de nuvens brandas e alvas flutuando, um sol brilhante difundindo sua glória sobre o rio, as montanhas distantes de Moabe, a vetusta cidade de Jericó pelas planícies, o Mar Morto, onde o rio irrequieto tombou por fim para descansar de suas furiosas quedas desde as Montanhas de Lebanon.

Foi no calor da tarde, após um mergulho no Mar Morto, que uma comitiva se deteve neste famoso sítio, faz anos, e sonhou essa hora quando o Filho de Deus, o Pai e o Espírito Santo, todos por sua presença testificaram à importância deste ato transcendente, ordenado por Deus, obedecido pelo Filho, aprovado pelo Espírito Santo e mandado por nosso Senhor na grande comissão que fosse obedecido até ao fim do século.

À luz de tudo isto, quem jamais dirá. que o batismo não é importante, que pode ser observado, ou mudado, ou omitido ao talante do indivíduo, ou pela autoridade de um corpo que a si mesmo se chama igreja de Cristo? É de tremenda importância e devemos sempre ter em mente que, se qualquer um dos seus quatro elementos faltar, teremos batismo defectivo e não batismo escriturístico, tal como Deus disse a Moisés a respeito do tabernáculo: "Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou", assim ele nos diz: "retendes os preceitos como vo-los entreguei", 1 Coríntios 11:2. Se as alterardes, desobedecereis a Deus, destruireis a verdade e trareis confusão e dissídio ao mundo cristão, onde devera haver união e paz.

Tem sido sempre o grito dos que desertaram a verdade que os que por ela se batem são culpados de causar divisão. Quem, pensais vós, são culpados, aqueles que batalham pela Fé uma vez por todas entregue aos santos, ou aqueles que desertaram a fé? Jamais teremos união pelo compromisso com os desertores; tê-la-emos somente quando os que desertaram voltarem à obediência em conformidade com o modelo que nos foi dado no batismo de Jesus.

Vejamos quão claramente esses quatro elementos fundamentais do batismo se acham no de Jesus.

1. UM CANDIDATO APROPRIADO.

Jesus foi um candidato apropriado. Sem pecado, não precisou, portanto, de arrepender-se. ele teve fé absoluta no Pai e no plano de redenção do mundo. Ele teve fé absoluta em si mesmo. João podia tergiversar (W o tradutor protesta solenemente contra esta idéia) e do fundo de sua prisão sombria mandar um recado a Jesus, perguntando: "És Tu o que havia de vir, ou esperamos outro?" Mateus 11:2-3. Mas jamais uma nuvem de dúvida escureceu a mente de Jesus. "Eu sou o pão da vida. Eu sou a água da vida. E se alguém tem sede, venha a mim e beba. Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salta para a vida eterna. Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará e sairá e achará pastagens. Dou-lhes vida eterna, e nunca hão de perecer, e nem ninguém as arrebatará da minha mão. Então disse-lhe: embainha a tua espada; ou pensas tu que não poderia orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?" João 7:37. 4:14. 10:9. Mateus 26:52-53. E assim podíamos continuar, tomar todas as palavras de Jesus, vê-Lo nas horas mais escuras de Sua vida, quando todos O desampararam, todas as mentes perto dele nubladas de dúvida e desespero, contudo Sua Fé no Pai e no divino empreendimento nunca se toldou da mais simples dúvida ou manchou por um só temor. E assim veio ele a João de acordo com o divino propósito de Deus através dos séculos para "cumprir toda a justiça", e para firmar um exemplo para todos que se tornassem Seus discípulos. É isto um caso de batismo de crente. Não há aqui conforto para os que perpetram o batismo infantil. Trinta anos ou quase trinta de idade quando se batizou. Não há conforto para os que pugnam pela salvação batismal, dizendo que vimos ao batismo um pecador perdido e no batismo nossos pecados são tirados.

Em Christian Baptism (Batismo Cristão), por Alexander Campbell, página 521, lemos: "A remissão dos pecados não pode ser gozada por pessoa alguma antes da imersão. A crença deste testemunho é o que nos impele à água, sabendo que a eficácia do Seu sangue é para ser comunicada a nossa consciência da maneira que Deus Se agradou indicar: não vacilamos ante a promessa, mas fugimos para a sagrada ordenança que trouxe o sangue de Jesus em contato com as nossas consciências. Sem saber isto e crer nisto, a imersão é uma noz vazia: a casca está lá, mas o miolo está faltando".

No Concílio de Trento a Igreja Católica Romana fez este articulado: "O batismo é um sacramento instituído por Cristo para lavar o pecado original e todos os que tenhamos cometido; para comunicar a humanidade a regeneração espiritual e a graça de Jesus Cristo e para uni-lo a cabeça viva. Se alguém disser que o batismo não é essencial a salvação, seja amaldiçoado. Os nossos pecados não são redimidos no batismo senão também toda a punição de pecado e impiedade.

John Wesley nas suas obras, volume 6, seção 4, fala pelos metodistas: "É certo que a nossa igreja supõe que todos quantos são batizados na sua infância são ao mesmo tempo nascidos outra vez. Se as crianças são culpadas de pecado original, não podem ser salvas na maneira comum a menos que se lavem pelo batismo".

O Dr. J. R., Graves, comentando a posição de outras corporações cristãs, diz: "Esta é a doutrina que nos distingue a nós batistas de outras denominações: pomos o sangue antes da água em qualquer caso; não ensinamos que o batismo é essencial à salvação".

Todos os outros ensinam através da água ao sangue. Os batistas ensinam através do sangue à água. Quem, pensais vós, está mais perto da posição escriturística como esboçada aqui no batismo de Jesus?

Consideremos agora o segundo elemento fundamental do batismo.

2. UM MODO APROPRIADO.

Não é nosso propósito demorarmo-nos muito sobre este elemento, não porque não é importante, mas porque tanto já foi dito sobre o assunto que o achamos desnecessário. Tem-se dito que há dois lados em toda questão.

Eis aqui uma questão da qual isso não se pode dizer verdadeiramente. Há nesta questão só um lado. Á luz das Escrituras, à luz dos eruditos gregos, na concessão dos que não praticam a imersão, mas dizem que foi o único batismo conhecido na igreja primitiva; à luz de tudo isto, qualquer que contendesse pela aspersão como doutrina escriturística tanto seria um ignorante como um que sabe ser uma inverdade o que diz saber.

Ninguém disputaria, depois de ler esta simples história do batismo de Jesus com um espírito imparcial que o seu batismo se realizou por outra forma que por imersão. "Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas? E sendo Jesus batizado, saiu logo da água". Os artistas da idade média, subservientes à sua mestra a igreja de Roma, encheram as galerias da Europa com quadros representando Cristo e João com água pelos joelhos no rio e João derramando de uma concha água na cabeça de Jesus tirada do rio. Quem quer que possa ler este relato bíblico do batismo de Jesus, sabe que, conquanto belo seja o quadro, não é verdadeiro às Escrituras. Aceitar uma semelhante interpretação e negligenciar a relação bíblica é a própria palavra baptizar, que é, sem dúvida, uma palavra grega e nada mais significa senão imergir ou mergulhar.

Quando o Rei Tiago quis traduzir a Bíblia, reuniu os eruditos do seu tempo para fazerem a tradução. Fizeram magnificamente peça de trabalho; mas, quando toparam a palavra grega baptizar, sabendo que ela significava "imergir", não ousaram traduzi-la assim sem conferirem com o rei, pois bem sabiam que a Igreja da Inglaterra batizava por aspersão. O resultado foi, a pedido do Rei, que não traduzissem a palavra de modo algum: que a anglicanizassem. E assim temos a palavra grega baptizo ou batizar nas Bíblias Inglesas (e portuguesas), quando, se tivesse sido traduzida, tem sido imergir.

O Dr. John T. Christian escreveu aos principais eruditos gregos da América e da Inglaterra, fazendo-lhes a seguinte pergunta: "Há qualquer léxico grego-inglês que defina a palavra baptizo por aspergir ou derramar?"

Respostas americanas:

"Não há nenhum léxico grego-inglês que dá aspergir ou derramar como um dos sentidos da palavra grega baptizo". Prof. H. W. Humphreys, Universidade Vanderbilt.

"Não sei de nenhum léxico que dá aspergir como uma versão de baptizo". Prof. W. S. Tyler, Colégio Amherst.

"Não há nenhum léxico grego-inglês padrão que dê quer aspergir quer derramar como um dos significados da palavra grega baptizo". Prof. Dodge, Universidade de Michigan.

"Não conheço léxico algum que dê os significados de que o senhor fala por baptizo." Prof. Flag, Universidade de Cornell.

Respostas inglesas:

"A palavra baptizo quer dizer afundar, ou mergulhar na água, Não respingar. Não sei de nenhum léxico que dê respingar por batizar". Prof H. Kynaton, D.D. Universidade de Durhan.

"Certamente, o significado clássico de baptizo é mergulhar, não respingar ou derramar". Prof. C. C. Warr, M. A., King?s College.

"Nunca, que eu saiba, encontrei a palavra no sentido literal de respingar e duvido que ela tenha qualquer sentido semelhante". Prof. John Stracham, M. A., Owens College.

"Não sei de qualquer léxico grego-inglês que dê o significado de respingar ou derramar. Se alguém o fizer, eu diria que se enganou". Prof. G. E. Mamdin, Universidade de Londres.

"Não sei se há qualquer léxico autorizado grego-inglês que faz a palavra significar respingar ou derramar. Apenas posso dizer que semelhante palavra nunca pertence a baptizo no grego clássico". Prof. R. C. Jebb, Universidade de Cambridge.

Mas, por que multiplicar provas? Não admira que o Rei Tiago e seus tradutores ficassem perplexos e não souberam o que fazer. Não somente o ato do batismo de Jesus, mas o próprio sentido da palavra faz a imersão imperativa como o segundo elemento do batismo escriturístico.

3. UM DESÍGNIO ESCRITURÍSTICO.

Por que foi Cristo batizado? Para mostrar em toda a sua plenitude a justiça de Deus. Assim com todo batismo. Há um desígnio e esse desígnio é patentear um certo todo de verdade que não é só a propriedade do crente senão a propriedade também do todo em que o crente se batiza. Não sei de um melhor modo para demonstrá-lo do que citar a definição dada por J. R. Graves:

"O batismo cristão é um ato específico a ser administrado por um corpo específico a pessoas professando qualificações específicas para a profissão de verdades específicas".

Agora, quais são as verdades específicas que o batismo estabelece? A resposta a esta pergunta leva-nos de volta ao período post-apostólico aí pelo segundo século A. D. Nesse período e por séculos adiante os catecúmenos, aqueles em instrução para o batismo, eram intimados a repetirem o credo da igreja e então se fazia invariavelmente a pergunta: "Quereis ser batizado nesta fé?" Destarte o batismo era não tanto para exibir a fé do crente como para mostrar as doutrinas, crenças e práticas da corporação executante do batismo. Mesmo hoje os episcopais retém este costume. A toda a criança respingada por eles faz-se a pergunta: "Credes em todos os artigos da fé cristã como estão contidos no credo apostólico?" O padrinho responde: "Creio". Então a pergunta: "Quereis ser batizado nesta fé?" O padrinho responde: "Isso é o meu desejo".

O sujeito do batismo, portanto, não professa tanto sua fé particular como a da denominação que o batiza. "Quais são as verdades específicas que o batismo estabelece?" A resposta depende da corporação batizante.

Quando os católicos romanos batizam, conforme com o Concílio de Trento, é para lavarem o pecado original, e todo pecado cometido, para comunicar regeneração espiritual e a graça de Jesus Cristo, para unir o batizado à. cabeça viva. Quando os seguidores de Alexandre Campbell batizam, é para remissão de pecados, como contende Campbell: eles (os batizados) só podem alcançar o sangue de Cristo pelas águas do batismo.

No caso dos metodistas, conforme com Wesley, é para regeneração e, no caso de criancinhas, para tirar o pecado original, do contrário estão perdidas.

Qual é o desígnio dos Episcopais? Paremos no seu serviço de confirmação. Pergunta: "Quem vos deu este nome?" Resposta: "Meus padrinhos no batismo, pelo qual fui feito membro de Cristo, filho de Deus e herdeiro do reino do Céu". Isso é o desígnio do seu batismo.

Qual é o desígnio dos presbiterianos? Leiamos o Breve Catecismo. Pergunta: "Que é batismo?" Resposta: "Batismo é um sacramento do Novo Testamento em que Cristo ordenou a lavagem em água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo para ser um sinal e selo da instilação em si mesmo da remissão de pecados pelo Seu sangue, regeneração pelo Seu Espírito, de adoção e ressurreição para a vida eterna".

Não tentaremos interpretar esta linguagem, mas deixaremos que o Dr. Hodge, de Princeton, e o Dr. Nevin, do Seminário Mercersburg, a interpretem. Diz o Dr. Hodge: "Somos batizados para que nos unamos com Cristo e sejamos feitos participantes dos Seus benefícios. Este batismo para arrependimento é um batismo para que se obtenha a remissão de pecados". O Dr. Nevin diz: "A igreja faz nos cristãos pelo sacramento do santo batismo, o qual ela sempre sustentou ser uma força sobrenatural para esse mesmo propósito".

Qual é o desígnio do batismo nas igrejas batistas?

Não é para a remissão de pecados. Não é meio de graça. Não é para regeneração. Nada tem que ver com a nossa salvação. É um quadro exibindo o Evangelho; a morte, enterro e ressurreição de Jesus e significa que o batizando está morto para a velha vida de pecado e ressurgido para uma nova vida em Cristo Jesus.

"De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida". Romanos 6:4.

Quão diferente é a posição batista da dos que fazem do batismo uma ordenança salvadora e dizem que não há caminho para o sangue de Cristo senão pelas águas do batismo!

Agora, todos quantos tem sido batizados na fé desses outros corpos cristãos, devem sustentar essa mesma fé ou então repudiá-la. Se repudiarem, devem também repudiar o batismo que os fez participantes dessa fé. Não há outra saída. Se não crêem mais nas suas doutrinas, não deveriam mais sustentar o batismo que os fez participantes dessas doutrinas. É isto certamente o único curso coerente e o único modo de honrar a corporação em que vieram a crer. Se sois batista na crença, deveis estar satisfeito com nenhum outro batismo fora do batista.

4. UM ADMINISTRANTE APROPRIADO.

Vejamos como isto está multiplicado no batismo de Jesus. Chegara o tempo de Jesus ser batizado. Cem quilômetros distante estava um homem enviado de Deus para batizar. Em redor de Nazaré havia muitos regatos e poços belos. Jesus podia ter escolhido alguém em Nazaré e tido que alguém O batizasse num dos belos poços. Isso teria sido batismo estranho, mas tal Ele não fez. Em vez disto, Ele partiu e caminhou cem quilômetros para conseguir que o batizasse alguém que tivesse a autoridade dada por Deus para batiza-lO. E contudo, a despeito disto, há quem diga que o administrante não é de importância alguma!

 

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